quinta-feira, 22 de março de 2012

'Avenida Brasil' traz justiceira vingativa como protagonista

Próxima novela das 9, que estreia segunda-feira, 26, elimina os tradicionais núcleos rico e suburbano dos folhetins


Aos 42 anos, João Emanuel Carneiro é a mais jovem e recente "ararinha azul" da TV - espécie rara e em extinção, como o autor Aguinaldo Silva gosta de chamar o seleto time de seis autores de novelas que há anos domina o horário das 9 da Globo, maior audiência da TV brasileira. Premiado roteirista de cinema, Carneiro estreia Avenida Brasil na segunda-feira, 26, sua quarta novela como autor principal (a segunda no horário das 9), com a responsabilidade da inovação, marca que cunhou após subverter a narrativa teledramatúrgica em A Favorita (2008), quando o público passou três meses sem saber quem era mocinha ou vilã: Donatela (Claudia Raia) ou Flora (Patrícia Pillar)?
Adriana Esteves e Marcelo Novaes formam dupla de vilões em 'Avenida Brasil' - Renato Rocha Miranda/ Divulgação
Renato Rocha Miranda/ Divulgação
Adriana Esteves e Marcelo Novaes formam dupla de vilões em 'Avenida Brasil'
Em Avenida Brasil, sinopse que ele entregou à direção da Globo em 2009, a inovação está em eliminar os tradicionais núcleos rico e suburbano das novelas. Tudo será um grande subúrbio, com ricos e pobres morando na periferia - tendência que acompanha a ascensão da classe C e a ânsia da TV por agradar a esse público. O minguado núcleo abastado será apenas um satélite da trama, e o título da novela, assim como os personagens, não podia ser mais carioca: embora em São Paulo a Avenida Brasil corte bairros nobre e casarões quatrocentões, no Rio, a via é um dos principais acessos da zona sul para a zona norte suburbana.
Quase todo o elenco mora no fictício bairro do Divino, onde fica o lixão, de onde saiu a vilã rica Carminha (Adriana Esteves) e para onde ela vai mandar Rita (Mel Maia), sua enteada de apenas 11 anos. Mais antiga que as fábulas, a história da madrasta má também é subvertida, quando a menina volta, adulta (com o nome de Nina, papel de Débora Falabella), como uma justiceira sedenta por vingança.
"Não escrevo personagens para os atores, mas a Nina foi feita para a Débora e, da personagem dela, partiu toda a história", contou o autor em entrevista ao Estado. Anti-heroína, Nina fugirá do perfil das mocinhas tradicionais, já que vai cometer vilanias em nome de uma causa justa.
Cheio de referências literárias, João Emanuel compara sua mocinha a Robin Wood e Davi, da Bíblia, além de Raskolnikov (protagonista de Crime e Castigo, do russo Fiodor Dostoievski) e Conde de Monte Cristo, obra de Alexandre Dumas que ele diz usar em todas as novelas. "Não sei mais fazer a mocinha vitimada. Como sofri pra fazer a Preta (Taís Araújo, em ‘Da Cor do Pecado’)! A Lara (Mariana Ximenes, de ‘A Favorita’) já era uma mocinha com mais problemas. Tenho de dar uma tapeada, para não ficar aquela coisa insuportavelmente chata."
Autor fala do perfil dos protagonistas
João Emanuel Carneiro conta ao Estado como serão os quatro personagens principais deAvenida Brasil, trama das 9 que estreia nesta segunda-feira, na Globo
Nina (Débora Falabella)
"Na minha cabeça, a Nina (Débora Falabella) é o Davi e a Carminha (Adriana Esteves), o Golias. A Nina também é o Raskolnikov (protagonista de Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski) . Ela só não não vai chegar a matar ninguém. A brincadeira é a mocinha ser uma espécie de Robin Wood. Ela vai largar toda a vida que construiu na Argentina para se vingar da madrasta que a abandonou no lixão e roubou o seu pai. Porque a mocinha vitimada é algo que eu não sei fazer mais. Mocinha tradicional por ficar insuportavelmente chata."
Carminha (Adriana Esteves)
"Me inspirei naquela governadora do Alasca, a Sarah Palin, pra fazer a Carminha. Ela tem um discurso moralista, de ser essa mãe de família, baluarte da sociedade Divinense, de falar que os valores da família estão ameaçados pelos sátiros, pelos degenerados. E ela não quer sair do subúrbio, é a rainha daquele bairro. Ela não é psicopata, mas uma mulher que quer sobreviver, fugir do lixão, da miséria. E vai traçar uma linha reta apara isso. Após dar o golpe no pai da Nina (Genésio, vivido por Tony Ramos), ela é capaz de jogar no lixão a criança que pode atrapalhar seu romance com o jogador de futebol. Não um lixão qualquer, mas um lixão que ela conhece, com o cara que a criou (Nilo/ José de Abreu). Ela se casa com Tufão (Murilo Benício) e bota o amante (Max/ Marcelo Novaes) dentro de casa, casado com a cunhada. E está sempre prometendo a esse amante que vai dar o golpe no marido e fugir com ele, mas nunca cumpre, porque a situação está confortável pra ela. Mas, apesar de tudo, o público vai simpatizar com ela em alguns momentos. Assim como ela ilude todo mundo naquela família, ela vai iludir um pouco o espectador."
Tufão (Murilo Benício)
"Ele foi ídolo do Flamengo na década de 1990. Seria menos rico que um Ronaldo, estaria mais para o Cerezo ou o Júnior. Mas, diferentemente de todos esses jogadores de futebol que se mudam pra Barra da Tijuca, o Tufão tem orgulho de ficar no subúrbio. E o universo do futebol surgiu,porque precisava de um rico pra ser casado com a Carminha. Pensei primeiro em um empresário. Mas não quero mais fazer novela de escritório, secretária, aquele painel de madeira, personagem de terno... 'Doutor, telefone pro senhor. Posso entrar?' Não quero mais isso na minha novela. Então, o rico nessa novela é o jogador de futebol. Aí é que veio todo esse universo do futebol."
Jorginho (Cauã Reymond)
"Na infância,foi criado no lixão como o órfão Batata. É lá que conhece a Nina, que fica sendo aquela paixão infantil. Depois,é adotado por Tufão e Carminha. O pai era um astro do futebol e ele, também jogador, está no banco do Divino Futebol Clube. Ele até tem algum talento, mas é muito perturbado psicologicamente, o que o atrapalha. Ele odeia a mãe adotiva, por exemplo.Não consegue jogar como o pai, não vai à concentração, é brigão...Vou falar muito de como é ser 'o filho do cara'?"
Estadão

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